terça-feira, 18 de março de 2008

O Terceiro Céu e o Espinho na Carne



Eu vi minha imagem refletida naquele espelho e por um instante viajei na silhueta projetada do meu lado. A dimensão que me envolveu naquele momento era algo transcendental, místico, algo que tocou minhas emoções, uma viagem louca que me transportou à dimensão da poesia.

Naquele lugar lindo pude encontrar as verdades que tanto procurei. A melodia que tocava lá trazia paz ao espírito. Ouvi o canto dos pássaros, senti o perfume das flores, encantei-me com os rios de águas cristalinas que brotavam das montanhas e bebi daquela fonte uma água tão deliciosa como jamais provei em toda a minha vida.

No mesmo instante comecei a ouvir vozes. Elas vinham de trás das montanhas. Muitas vozes. Não conseguia distingui-las. Todas elas diferentes entre si. Elas me atormentavam. Eram como demônios. Eram demônios da minha alma. Vozes que tentavam me escravizar. Aquilo abalou meu momento poético e me fez descer da pretensa ilusão.

No mesmo instante que subi aos céus desci ao inferno.

Tentei entender o que estava acontecendo. Tentei voltar ao lugar das delícias e tentei discernir aquelas vozes. Minhas tentativas foram em vão. Continuei perdido naquele mar de ilusão. Tentei expulsar aquelas vozes de mim ou ao menos tapar os ouvidos, mas elas me esbofeteavam, me revelavam verdades que eu não queria ouvir. Eu queria mesmo era voltar àquele jardim maravilhoso, ao lugar das delícias.

Nesse momento entendi que aquela dialética existencial era necessária ao meu crescimento. Eu necessitava desse embate de sentimentos contrários entre si para encontrar a síntese que me transmitisse a graça. Entendi que todo poder deve vir acompanhado de uma fraqueza para não se transformar num demônio em nossa existência.

Depois disso, abri os olhos e olhei a minha frente: eu ainda estava lá! Era eu naquela imagem refletida no espelho. Era eu lutando contra eu mesmo. As vozes, o inferno, o jardim, o céu: tudo estava ali, dentro de mim.

Encarei-me de frente, toquei minhas mãos no espelho, respirei fundo e clamei:

- Afasta de mim essa dor!

Então Ele me disse:

- A minha graça te basta, pois o poder se aperfeiçoa na fraqueza!

3 comentários:

Anônimo disse...

É gurí, vc tah escrevendo muito... Texto excelente! Parabéns!

Thiago Mendanha disse...

Bravo, bravo! Não sei se é Teologia Poética ou Poesia Teológica!

Humberto R. de Oliveira Jr disse...

Teopoética encerraria o dilema?

Abraços fraternos.